domingo, 16 de março de 2014

A Educação Escolar de Pessoas com Surdez

Enquanto as discussões ficam centradas na aceitação de uma língua ou de outra, as pessoas com surdez não têm o seu potencial individual e coletivo desenvolvido, ficam secundarizadas e descontextualizadas das relações sociais das quais fazem parte, sendo relegadas a uma condição excludente ou a uma minoria. Uma nova política de Educação Especial na perspectiva inclusiva, principalmente para pessoas com surdez, tem se tornado promissora no ambiente escolar e nas práticas sociais/institucionais. Sob a força do que se constitui como paradigma inclusivo, não legitimamos os estudos e trabalhos que têm defendido os marcadores identitários dos surdos: cultura surda, identidade surda, línguas surdas e sujeito surdo, tendo, do outro lado, os seus oponentes: os ouvintes dominadores.
 O problema da educação das pessoas com surdez não pode continuar sendo centrado nessa ou naquela língua, como ficou até agora, mas deve levar-nos a compreender que o foco do fracasso escolar não está só nessa questão, mas também na qualidade e na eficiência das práticas pedagógicas. “É preciso construir um campo de comunicação e interação amplo, possibilitando que as línguas tenham o seu lugar de destaque, mas que não seja o centro de tudo o que acontece nesse processo.” Aí, deve-se discutir a presença obrigatória de quem age, produz sentido e interage: a pessoa com surdez. Isso nos faz pensar num sujeito com surdez não reduzido ao chamado mundo surdo, com a identidade e a cultura surda, mas numa pessoa com potencial a ser estimulado e desenvolvido nos aspectos cognitivos, culturais, sociais e lingüísticos, pois a concepção de pessoa com surdez descentrada se caracteriza pela diferença, que, sob a força de divisões e antagonismos, leva a pessoa descentrada a ser deslocada e a assumir diferentes posições e identidades, Hall (2006). É nesse sentido de descentramento identitário que concebemos a pessoa com surdez como ser biopsicosocial, cognitivo, cultural, não somente na constituição de sua subjetividade, mas também na forma de aquisição e produção de conhecimentos. Contudo precisamos nos afastar de idéias de unanimidade, de obviedade, de fragmentação, pois mergulhar na realidade é saber que estamos sempre incompletos, indefinidos, por sermos complexos, Morin (2001), e isso nos coloca na perspectiva do outro, cujos fios tecem infinitos sentidos em redes de conhecimento nas quais sempre o ser humano, em especial, a pessoa com surdez, estará enredada. A atenção deve estar centrada, primeiramente, no potencial natural que esses seres humanos têm, independente de deficiência, diferença, limites ou mesmo do marcador surdo. Nessas pessoas, se lhes forem criados ambientes propícios para desenvolverem o seu potencial, as marcas do déficit, da falta, da falha e da deficiência serão secundarizadas e será exaltado o seu potencial humano.
O AEE PS deve ser visto como construção e reconstrução de experiências e vivências conceituais, em que a organização do conteúdo curricular não deve estar pautada numa visão linear, hierarquizada e fragmentada do conhecimento. O conhecimento precisa ser compreendido como uma teia de relações, na qual as informações se processem como instrumento de interlocução e de diálogo. Pensamos no AEE PS, na perspectiva de que tudo se liga a tudo e que o ato de um professor transformar sua prática pedagógica, conectando teoria e prática, a sala de aula comum e o AEE, numa visão complementar, sustenta-se a base do fazer pedagógico desse atendimento. A organização didática desse espaço de ensino implica o uso de muitas imagens visuais e de todo tipo de referências. Os materiais e os recursos para esse fim precisam estar presentes na sala e respeitar as necessidades didático-pedagógicas para o ensino dessa língua.

No decorrer AEE de Libras, os alunos interagem e vivenciam momentos singulares de diálogos e trocas. Os professores e os alunos recorrem a vários recursos pedagógicos, tais como DVDs, livros, dicionários, reálias, materiais concretos, dentre outros.